O “Auto da Compadecida” é uma obra icônica do autor brasileiro Ariano Suassuna, originalmente publicada em 1955. Com uma mescla singular de comédia e drama, Suassuna captura a essência do nordeste brasileiro, pintando um quadro fascinante da cultura popular nordestina. Seu texto transpira oralidade, misturando humor e crítica social em um retrato profundo da condição humana.
A trama
Ambientada no sertão da Paraíba, a peça gira em torno das aventuras de João Grilo, um personagem astuto e trapaceiro, e seu companheiro Chicó, conhecido por suas histórias improváveis. Os dois tentam sobreviver em meio à miséria, usando a esperteza para enganar a todos. Entre suas trapaças, acabam provocando uma série de acontecimentos que os levam a um julgamento divino após suas mortes.
Nesse julgamento, personagens como o diabo e Jesus Cristo (disfarçado de homem) aparecem, e Nossa Senhora, a Compadecida, surge como a advogada de João Grilo, defendendo-o contra as acusações do diabo. A partir daí, Suassuna utiliza a estrutura de um “auto” medieval para trazer questões profundas sobre moralidade, fé e justiça divina.
Personagens e desenvolvimento
- João Grilo: O protagonista é um dos personagens mais cativantes da literatura brasileira. Seu jeitinho matuto e malandro o torna irresistível. Ele representa o homem pobre do sertão que precisa usar de astúcia para sobreviver, sempre contando com a sorte.
- Chicó: O amigo e parceiro de João Grilo é conhecido por suas histórias mirabolantes. Sua falta de coragem é compensada pela lealdade e amizade com João.
- Padre João e Bispo: Personificam a corrupção e o materialismo do clero.
- Major Antônio Morais: Um dos personagens que representa a elite opressora do sertão.
- Nossa Senhora: A Compadecida é a figura da compaixão e misericórdia, defendendo João Grilo contra o diabo e o tribunal celeste.
Cada personagem é uma caricatura intencional de figuras típicas do sertão, contribuindo para a crítica social e religiosa presente na obra.
Temas e significado
A peça aborda temas como a religiosidade popular, a astúcia do sertanejo, a hipocrisia das instituições religiosas e a desigualdade social. O julgamento final é uma alegoria da luta entre o bem e o mal, com Suassuna dando um toque único ao apresentar Nossa Senhora como a compadecida e o demônio como uma força que tenta manipular as almas.
Outro aspecto fascinante é a forma como o autor mescla elementos da literatura de cordel, tradições populares e influências do teatro clássico, criando uma obra universal e atemporal.
Conclusão
“O Auto da Compadecida” é uma peça genial que transcende sua simplicidade aparente, proporcionando momentos de reflexão profunda e risos. A obra de Ariano Suassuna, com seu ritmo envolvente e personagens inesquecíveis, continua sendo um marco da literatura brasileira. É um convite para compreender o sertão, a moralidade e a compaixão sob a lente afiada de um dos maiores escritores brasileiros.
Se você está em busca de uma história que mescla humor, crítica social e espiritualidade com maestria, “O Auto da Compadecida” é a escolha perfeita.